por Affonso Chaves Jr.
Essa é a questão do momento! Muitos têm perguntado a minha opinião
a respeito desse tema. Em várias rodas de conversa discute-se o assunto e
não se chega a uma conclusão.
Na verdade, será muito difícil haver um consenso sobre qual a melhor
forma de trabalho atualmente. Até pouco antes da pandemia, e já se vão quase
três anos, havia um movimento para viabilizar o trabalho remoto, o tão falado
“home office”. Em vários países, essa modalidade de trabalho já era uma
realidade bem estabelecida e os profissionais se utilizavam dela em alguns
dias da semana ou em tempo integral.
Aqui no Brasil, no entanto, havia apenas iniciativas em certas
multinacionais, buscando implantar o mesmo conceito já existente em sua
matriz ou em filiais de outras regiões. Um dos principais obstáculos, além
naturalmente da cultura arraigada do trabalho presencial, sempre foi a
tecnologia. A transformação digital nas empresas era fator decisivo e
mandatório para que o trabalho remoto pudesse ser implementado.
Por transformação digital entenda-se a implantação de processos
automatizados, assinatura digital, sistemas digitais para reuniões, registro de
“presença” entre outras atividades. Não era algo barato e simples de se
implementar. Com a pandemia e a exigência do trabalho remoto, não houve
outro jeito: seria mandatório acelerar a sua execução e viabilizar a realização
de reuniões online e toda uma série de novas formas de trabalho.
Como sempre dizem, a necessidade faz acontecer e atualmente, a
transformação digital é uma realidade na maioria das empresas. O trabalho
remoto ou “home office” já faz parte da vida dos brasileiros. Empresas
devolveram parte dos seus escritórios. Colaboradores retornaram para suas
cidades de origem e de lá cumprem suas jornadas de trabalho. Contratações
são feitas em diversos estados, e até em outros países, sem a necessidade de
deslocamento.
No entanto, agora que a pandemia arrefeceu, muitas empresas estão na
dúvida de que modelo de trabalho devem assumir: 100% presencial, 100%
remoto ou algum modelo híbrido com dias remotos e dias presenciais ou com
parte da equipe remota e parte presencial.
Antes de prosseguir na reflexão sobre qual o melhor modelo, precisamos
nos atentar a algumas variáveis ainda não bem definidas sobre este tema. Uma
delas é a legislação trabalhista a ser aplicada aos novos modelos (remoto e
híbrido). Outra variável é o controle de atividades e resultados, incluindo o
processo de liderança de uma equipe trabalhando remotamente ou de forma
híbrida. Outra ainda são as ferramentas de trabalho (hardware e software) a
serem utilizados nos domicílios dos colaboradores.
A legislação trabalhista vem sendo melhorada para incluir os novos
modelos de trabalho. Iniciativas do governo federal e do congresso já abordam
algumas das questões em aberto nesses novos modelos. Mas ainda há uma
distância considerável para se chegar a algo que contemple a maior parte dos
pontos relativos a controle de horas, benefícios, obrigações do empregador tais
como o fornecimento de ferramentas de trabalho, remuneração adicional para
pagamento de energia e internet etc.
A questão do controle de atividades e resultados, a liderança
propriamente dita, já tratamos um pouco em nosso livro “Como tornar-se um
Líder”. Desde que escrevemos o capítulo “Liderança em tempos de pandemia”,
temos conversado com diversos líderes que falam a respeito de suas mais
recentes experiências:
“Conheci agora, pessoalmente, alguns dos meus colaboradores que
estão na empresa há quase dois anos”, “Tive que demitir um colaborador sem
nunca o ter conhecido pessoalmente”, “ainda não consigo acompanhar certas
atividades de alguns colaboradores que permanecem em trabalho remoto, pois
moram fora da cidade”.
É complicado liderar nessas condições, principalmente os colaboradores
mais novos na empresa, pois não foram integrados formalmente e não
captaram “in loco” a cultura da empresa. Essa é uma questão que ainda vai
levar um bom tempo para se resolver. Mas vamos em frente…
Quanto às ferramentas de trabalho, a tecnologia vem suprindo a maior
parte das demandas. São aplicativos, dispositivos e sistemas que vêm
tornando possível melhorar as condições de trabalho para quem está em
“home office”.
Voltando ao tema principal do nosso artigo, qual é o melhor modelo?
Algumas empresas tomaram a decisão de exigir o trabalho presencial
para todos. Essas empresas vêm sofrendo quando precisam contratar novos
colaboradores, pois já temos no mercado o profissional que só trabalha
remotamente. A decisão de trabalho presencial precisa levar isso em conta e
correr o risco de perder colaboradores e não conseguir repô-los.
Outras organizações decidiram que todos devem trabalhar remotamente
e, quando precisam se reunir, alugam uma sala em um co-working ou vão a
uma café. São empresas cujo “core business” são atividades que facilmente
podem ser executadas “em casa” tais como desenvolvimento de software
(sistemas, aplicativos sites), serviços de advocacia, contabilidade entre outros.
Entretanto, a maioria das empresas vem aplicando o modelo híbrido por
equipe ou por período. Para certas equipes, é mandatório o trabalho
presencial, como produção, logística, qualidade e operação/manutenção em
campo. Outras equipes podem facilmente trabalhar em “home office” como por
exemplo administrativo, financeiro, jurídico, compras, auditoria e RH.
Equipes de marketing e vendas também conseguem um bom resultado trabalhando de
casa, porém é importante alguns dias de trabalho presencial.
Resumindo, não existe, nem nunca vai existir um modelo que possa ser
considerado o ideal ou o mais eficiente. Cada empresa terá que avaliar sua
realidade e escolher o modelo que mais lhe traga resultados. O que a
pandemia nos trouxe foram novas formas de trabalho que podem, e devem, se
escolhidas pelas empresas, de acordo com suas características, “core
business” ou peculiaridades.
Temos que tirar proveito desta situação: a imensa flexibilidade de que
dispomos agora para atender às demandas das organizações e dos
colaboradores. E o mais importante: a possibilidade de maximizar a
produtividade e os resultados, sem a necessidade de exigir a presença física
de todos. Cada um poderá dar o seu melhor, com seu momento de vida
respeitado por seu empregador.